terça-feira, 29 de maio de 2012

Stuart Sutcliffe: Muito mais do que "O quinto Beatle".



Stuart Fergusson Victor Sutcliffe nasceu em 23 de Junho de 1940 em Edimburgo, Escócia (Reino Unido). Filho de um marinheiro (beberrão e violento) e de uma professora, ingressou na Liverpool College of Art em 1956, onde veio a conhecer John Lennon um ano mais tarde. À época chegou a trabalhar como lixeiro para sustentar-se, já que saiu de casa para morar com um amigo do colégio. Sutcliffe merece mais do que ser simplesmente uma nota de rodapé na história dos Beatles; sua arte abstrata poderia ter marcado o século XX, caso ele tivesse vivido um pouco mais.
Ao final do ano de 1959, enquanto Johnny and The Moondogs (John, Paul e George) faziam música, Sutcliffe trabalhava num grande quadro abstrato, dividido em duas partes, para a exposição bienal de John Moore, a ser exposto na Walker Art Gallery. A primeira metade do trabalho, intitulada Summer Painting, foi o único trabalho de um estudante a ser aceito para o prêmio, tendo sido comprada por John Moore ao preço de £65 (na época o equivalente ao salário que um trabalhador pobre ganharia em 7 semanas de trabalho). John Lennon então o convenceu à usar seu dinheiro para comprar um baixo elétrico e se juntar ao grupo, que viria a ser The Quarrymen. Assim, foram juntos ao Frank Hessy's Music Shop, em 21 de Janeiro de 1960, onde compraram um belo Höfner 333. Stuart não sabia tocar, mas a banda insistiu e o ensinaram. Entretanto, ele ainda não gostava do nome da banda. Na verdade, Lennon e Sutcliffe são referidos como os responsáveis por criarem o nome The Beatles (primeiramente The Beetles ou The Beatals, como teria sido pronunciado, significando "Os Besouros", em alusão à banda de Buddy Holly, The Crickets - "Os Grilos" -, da qual ambos eram fãs).

Stuart, à esq., John, a dir. Hamburgo, Alemanha./The Stuart Sutcliffe Estate.

"Eu prestava atenção no Stu. Eu dependia dele me dizer a verdade... Stu me diria se algo era bom e eu acreditaria nele." - John Lennon.

A influência de Stuart Sutcliffe nos Beatles foi importante. A ele - em conjunto com sua esposa, a fotógrafa Astrid Kirchherr, que conheceu em Hamburgo - é atribuído o estilo rock'n'roll que os Beatles tinham no começo. Tinha grande presença de palco e conquistava as fãs com seu visual a la James Dean. Paul McCartney viria a confessar mais tarde que teve ciúmes de Stuart, já que ele sempre ficava em "terceiro lugar" quando John e Stu estavam juntos. Yoko Ono revelou mais tarde que John o considerava como seu "alter ego, um espírito em seu mundo, uma força-guia". Bem, não menos importante era o talento de Stu como baixista. 
Paralelamente, entretanto, a verdadeira paixão de Stu sempre foram as artes plásticas. Assim, em julho de 1961, oito meses após conhecer Astrid, ele deixou os Beatles para dedicar-se aos estudos. Sua irmã, Pauline Sutcliffe, disse que ele nunca se arrependeu da decisão, já que sentia que seria famoso de qualquer jeito. Assim ele ingressou na Hamburg College of Art, onde teve aulas do pop artist Eduardo Paolozzi (o cara que produziu a capa de Red Rose Speedway, quarto álbum do Paul McCartney com o Wings). Paolozzi escreveu sobre Stu, dizendo-o um de seus melhores alunos.
A arte de Stuart demonstrava influência da arte abstrata europeia, mas também estava de acordo com o expressionismo abstrato estadunidense da época. Há semelhanças entre ele e artistas como John Hoyland e Nicolas de Stäel (aliás, Stu chegou a usar "Stu de Stäel" como nome de palco quando tocava com os Beatles na Escócia, na primavera de 1960).


O drama da história começou mesmo enquanto Stu morava na Alemanha e passou a sofrer de enxaquecas severas e demasiada sensibilidade à luz. Em 1962, Stu sofreu um colapso em plena aula. Os médicos alemães não conseguiram determinar o que estava causando aqueles problemas, embora Stu tenha sido submetido á vários exames. Em 10 de Abril de 1962, Sutcliffe sofreu um novo colapso e foi levado ao hospital por sua mulher, que o acompanhou na ambulância. Ele morreu antes de chegar ao hospital.
A causa da morte foi um aneurisma que causou um derrame no ventrículo direito de seu cérebro. Atribui-se o aneurisma à uma briga que Sutcliffe se envolveu após performance dos Beatles no Lathom Hall, Janeiro de 1961. Ele teria sido jogado contra a parede pelos agressores, batendo a cabeça e fraturando-a. Na ocasião foi defendido por Lennon e Pete Best.
Em 1994 foi lançado o filme Backbeat, que foca em Stuart Sutcliffe, sua futura esposa Astrid Kirchherr e os Beatles, todos ainda tão jovens, em suas primeiras - e intensas - aventuras em Hamburgo, na Alemanha.

Stuart Sutcliffe e Astrid Kirchherr


Stuart Sutcliffe está sepultado no Parish Church Cemetery, Liverpool. Sua irmã, Pauline Sutcliffe trabalham para manter sua memória viva com o site www.stuartsutcliffe.org, onde mais de sua arte pode ser vista. Minhas sinceras reverências à esse sujeito tão complexo e talentoso, tão importante na história dos Beatles, e tão tragicamente efêmero.



Fontes:
http://www.independentsentinel.com/2012/01/stuart-sutcliffe-the-heartbreaking-life-death-of-the-lost-beatle/
http://www.stuartsutcliffe.org/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Stuart_Sutcliffe
http://en.wikipedia.org/wiki/Stuart_Sutcliffe


domingo, 20 de maio de 2012

Como a escola te reduziu




Cedo, bem cedo quando descobrias o prazer de observar a natureza ao teu redor, te conduziram à uma instituição chamada escola, uma fábrica de adaptar pessoinhas ao mundo vigente. Você, pequeno, maleável, tristemente condicionável, não mais podia brincar com os outros lotes, digo, as outras crianças, durante um determinado horário; tinha de ficar sentado numa cadeira, enfileirado e voltado pra frente, sob os olhos de um professor e tutor, tendo que observar o mundo não diretamente, mas através de um medíocre quadro negro cuja cor é verde. Dele vieram informações mastigadas, obrigatórias e, quem sabe, tendenciosas - tanto fez, você era mesmo só uma criança ingênua.

Daí você foi crescendo dentro dessa instituição, tendo suas possibilidades de experiência de vida limitadas. Assim, você foi aprendendo e apreendendo(-se) ao longo de seu “progresso escolar”, repetindo aquilo que as entidades invioláveis (o quadro negro-verde e o professor-robô) apresentavam e sendo submetido a testes. Embora, e talvez, cheio de informações, tua capacidade intuitiva foi atrofiada, e teus talentos não foram bem alimentados. Ainda assim te disseram que, com aquele monte de aprendizado, você poderia, no futuro, “se dar bem na vida”. E lá se sabe quantas coisas foram ditas “pro futuro”, pois na escola instituída não há presente, nenhum viver é possível no presente, só nesse futuro.

Obviamente não bastou a supertutela da instituição, era preciso que os outros lotes... Quero dizer, colegas, te testassem também, para que você se adequasse, senão à escola, à dita sociedade exterior, ainda mais inviolável. Teus coleguinhas, inclusive, te fizeram sofrer para cumprirem essa função de defensores do status quo, ou simplesmente para que se sentissem superiores à você. Eles eram tão mais adequados...

Tendo sobrevivido a tudo isso, o tal futuro chegou, e o sistema se mostrou em sua benevolência. Após conseguir o diploma, você já pôde se especializar em alguma função e exercer aquilo, sendo remunerado por isso, podendo assim ter o direito de sobreviver nesse mundinho legal. Mas esse já é outro capítulo...



domingo, 4 de março de 2012

A Fatia



As páginas do diário estão cansadas, e eu cansado delas. É que seria tão vago preenchê-las friamente... Vale mais um coração, uma fatia da vida num prato, uma fatia inteira em uma só dose. O grito é necessário, melhor que o silêncio do sono que, assim como você, não vêm, ao menos não agora. “Mas o que foi que deu nesse garoto? Que face é essa, jovem e resignada?” Sou só um ator sem palco, de pau duro e olhos abertos, exagerando tudo aquilo que aprendeu enquanto ainda tem muito mais a aprender.

Normalmente as mentes críticas desgostam de qualquer desabafo mal feito como esse, que de início não tem cara de nada, só de um desespero inconfesso contido num isqueiro e numa pose altiva de nada. Ali os meus ombros e meu torso e o brilho do couro, uma necessidade estética, um trabalho de linguagem, um nó patético, e a porra da música mais linda saindo do nunca. Olhando pra trás, estava tudo tão óbvio e chocante, tão simples, e escapável. Olhando pra trás até que tudo pareceu fácil, bem fácil e bobo, senão miserável. Já viste, aliás, como é o olhar de um miserável ante a qualquer novo desafio? Tantas coisas nas lacunas dos olhos, enquanto passa o metrô, e aquele barulho frio do aço sem vida.

De vez em quando algum vermelho irrompe a cena, algum azul, algum rosa mais marrom que rosa. E sempre uma música de lugar nenhum insiste em falar de amor, só fazendo sentido pra alguém como eu. Martelos e pregos e você do outro lado do oceano. Daí de vez em quando uma voz... “Você já viu o último escândalo político? E o calor, não é absurdo?” Mas nas músicas nada a não ser os amores, nos poemas os amores, acima do fim do mundo, a sobrevivência dos amores. É tudo o que importa. Então vai que eu não sou a única criança aqui! Somos todos crianças miseráveis, com muitos lixões pra garimpar.

Mas é, ainda tem alguma comida em meu estômago. E algum lugar pra ir e ficar pendurado, ou uns insetos pra pinçar. E vou contar pra alguém e sem nenhuma vontade a história de uma fada, e a fada vai me abençoar seja de perto ou de longe, ou vai me render com um fuzil de assalto e pedir novamente que eu não me precipite. Como se eu ou a fada soubéssemos de algo, além de gritar, sim! Gritar continuamente, fingindo que algo dentre os secos objetos é eterno, e que nosso grito tem sempre um destinatário e, por um momento, é infalível. Em verdade, recai tudo em espera, mesmo na espera dos passos retos, pra prosseguir ansiosamente em agendas, números, mãos e sortes que repentinamente mostram alguma vida, rasgando pelo eco das promessas, fatiando em cores os trechos de um filme onde todos os gêneros são possíveis, até mesmo o da surpresa.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Amar o tempo: Feliz 2012!



O ano de 2011 está chegando ao fim, e outro está começando, é o que dizem. O tempo, sabe-se que é um negócio contínuo, mais que contínuo, permanente. Mas isso não é muito fácil de lidar. Facilita a nossa vida dividi-lo em períodos pequenos e grandes. E os momentos vividos – serão momentos, aclives, declives?...

Ora, tão importante quanto a cronografia é a consciência e a vivência temporal. Saibamos sempre que essa consciência – vivência só é possível no que se chama de presente. Apenas no presente é possível refletir sobre o que houve, sobre o que há, sobre o que haverá; eis que o tempo se torna contínuo e inseparável de nossas vidas, de tal forma ainda mais persistente do que uma mancha de molho na camisa, uma bala de menta esquecida no bolso, um desejo inexpresso e insatisfeito, todavia sem configurar qualquer incômodo.
 Ah sim, é uma relação encarnecida essa com o tempo-espaço e, como tal, deve ser confortável sempre, é mais que um casamento. Amar o tempo presente constantemente significa estar atento a ele e a tudo que nele se discorre. Do contrário, seremos sempre como os ponteiros dos relógios, que giram, regiram e jamais alcançam nada.
Daqui pra frente, nosso compromisso com a vida deve mudar um pouco de natureza. É muito fácil girar constantemente como fazem os ponteiros do relógio. Necessário, entretanto, é Ser com o Tempo, vivê-lo e aceitar o Presente que ele nos oferece. Os aprendizados e as experiências, as mudanças e as decisões corajosas, os amores inebriantes aos quais devemos nos entregar lúcidos... Tudo isso devemos massagear sobre a lisa e luminosa tez do presente. O que se requer aqui não é ansiedade (Ah, vou fazer tudo hoje! Agora!). Ao contrário, só é possível estarmos atentos ao presente se estivermos em estado de paciência, ou seja, em paz, cientes. Assim, poderemos saber o que fazer a cada momento de nossas vidas, coisa por coisa, momento por momento. Talvez, com esse conhecimento, poderemos fazer de 2012 um ano ainda mais intenso que 2011, cheio de aprendizado e, claro, de conquistas.
Assim sendo, fiquem na paz, e tenham um feliz ano novo. Jah Bless! 


sábado, 3 de dezembro de 2011

Ismália, Buenas Noches.

Ismália, Buenas Noches.



Sente só
           Só agora
                 Aspira o pó
                             O pó aéreo
                                       Pós 2ª Guerra
                                               Pior que cocaína.

Vê no tom cinza negro amarelo
Como o ar essa noite é seco
E parece estar de mau humor.

É o bafo da Lua nascente,
Essa Lua fumante,
Mas quem se importa.
Vejo-a, pela lente da janela aberta, a fumar seus alvéolos pulmolunares, e basta a visão.

Piores ainda são os ares
Pressurizados
Politicamente corretos
Pelos quais planam morcegos cegos.

Pega hoje a tua bandana, garota,
Molha-a com água gelada,
Amarra-a no rosto pra umedecer o respirar pelas mucosas internas.
Saiamos sem ensaio
Pelas ruas pós-trabalho
                  De um faroeste em chamas.

(Então corremos de mãos dadas, pulando sobre obstáculos incendiados, enquanto o exército tenta nos atingir com metralhadoras de munição traçante, e não cessam os bombardeios até que chegamos ao abrigo.)

Pronto, amiga, já podemos respirar.
Respire fundo, a hipocrisia expira.
Solta o pânico que ficou lá fora.
Agora toma um gole comigo,
Pois tu, Lua Ismália...                    
Em si és bela,
Fora de si é inda mais.

Que tal irmos ao fim do logradouro?
Lá há uma sala, beco deserto
Onde dois divãs nos esperam.
Deitemos a fadiga das células, dos tecidos, das ondas, das ressacas passadas, das sugadas dos morcegos cegos, dos sufocantes ares poluídos, dos fardos semivivos, toda fadiga: deitemos.

Canta, como é que foi teu dia?
Canta, que somos agora?
Narrativas lineares no espaçotempo? 
Significados essenciais solutos em consciência?

Gametas? Somos gametas – palavras? Somos planetas – facetas? Somos capetas – canetas? Somos caretas – tormentas? Somos pimentas – erratas?

Peça, amiga, que me prendam!
Sou um marginal, incapaz de ver as barreiras das coisas. Mas, sendo assim, que me prendam bem preso, tão preso que eu sequer veja a prisão.
Mas antes, querida, brinquemos como crianças
Pelas zonas erógenas aldeãs,
Pelos jardins e cemitérios sérios.
Brindemos ao amor anárquico,
À visão plena do escuro pleno branco,
À bravura, à coragem de adentrar no escuro brando,
À piromania e à cera quente na qual nossos dedos se aprofundam,
À disciplina no voo dos vagalumes rebeldes,
À atenção ao invés da concentração,
À luz constante da Midríase que passeia seu olhar miando e roçando com carinho os filósofos amantes metafísicos.

Querida,
Cacau
Cevada e buenas noches. 

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Por Israel Silva.