quarta-feira, 14 de julho de 2010

Onde encontrar a Felicidade?

1 - Introdução


Felicidade: 1 – Estado de quem é feliz. 2 – Bem - estar. 3 – Bom resultado, bom êxito. (MICHAELIS. Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Cia. Melhoramentos de São Paulo, 1998; p. 545.)


A felicidade é o estado de pleno bem estar que o ser humano vive buscando. É quando nós não temos necessidades, nem dores físicas, nem dores da alma. É quando nós vivemos em prazeres.

O ser humano vive tentando encontra uma maneira de viver nesse estado de espírito. Alguns buscam a felicidade no consumo de produtos, na religião, no enriquecimento ou numa vida desmedida e impulsiva, cheia de prazeres.



2 - Onde encontrar a felicidade?



O filósofo grego Epicuro (341 – 270 a.C) conseguiu encontrar a fórmula da felicidade. Ela consiste em:



Amigos: pessoas emocionalmente ligadas à você, com quem você pode dividir ideias, momentos e opiniões, com quem você pode conversar e dividir os sentimentos, com quem você pode se expressar.

Epicuro construiu uma grande casa e lá convidou seus melhores amigos para viverem ao seu lado. Dizia que não há amizade na distância.

Liberdade: Autosuficiência financeira, liberdade de ir e vir, liberdade de pensar e agir. Entender o sentido da liberdade em Epicuro exige compreender a ânsia do consumismo reinante em nossa sociedade. Envolto numa atmosfera do “ter para ser” o homem gasta sem necessidade e compra coisas que nunca irá utilizar. E é justamente este excesso que rouba de nós o direito de ser feliz. Para Epicuro, encontrar a felicidade é também ser livre para decidir. A liberdade de dizer não aos padrões impostos pela massa e viver uma vida equilibrada.

Uma vida Analisada: Não é possível falar em bem-estar sem valorizar os momentos de introspecção, onde o homem se permite analisar sua história de vida e mudar quando a situação o permitir. Epicuro sabia que ninguém consegue ser feliz se não tiver a capacidade e a coragem de analisar os rumos da sua trajetória para encontrar o equilíbrio tão necessário num mundo onde as pessoas olham mais para as outras e se esquecem de si.

O prazer

A doutrina de Epicuro entende que o sumo bem reside no prazer. O prazer de que fala Epicuro é o prazer do sábio, entendido como quietude da mente e o domínio sobre as emoções e, portanto, sobre si mesmo. É o prazer da justa-medida e não dos excessos. É a própria Natureza que nos informa que o prazer é um bem. Este prazer, no entanto, apenas satisfaz uma necessidade ou aquieta a dor. A Natureza conduz-nos a uma vida simples. O mais alto prazer reside no que chamamos de saúde.

3 - Algumas frases de Epicuro



“Só há um caminho para a felicidade. Não nos preocuparmos com coisas que ultrapassam o poder da nossa vontade.”

“Nada é bastante ao homem para quem tudo é demasiado pouco.”

“Aquele que melhor goza a riqueza é aquele que menos necessidade dela tem.”

“Queres ser rico? Pois não te preocupes em aumentar os teus bens, mas sim em diminuir a tua cobiça.”

“É estupidez pedir aos deuses aquilo que se pode conseguir sozinho.”

“O prazer não é um mal em si; mas certos prazeres trazem mais dor do que felicidade.”

“Se queres a verdadeira liberdade, deves fazer-te servo da filosofia.”


4 - A contribuição da Alienação para a perda da felicidade

Alienação: transferência de domínio de algo, perturbação mental na qual se registra uma anulação da personalidade individual. A alienação trata-se do mistério de ser ou não ser, pois uma pessoa alienada carece de si mesma. Alienação refere-se à diminuição da capacidade dos indivíduos em pensar e agir por si próprios. A alienação é a perda de algum bem material, físico, mental, emocional, cultural, social, político e/ou econômico. O criador se torna criatura, as coisas são humanizadas e os humanos são coisificados.

Trabalho Alienado


Karl Marx (1818 – 1883 d.C) teria identificado a Alienação do Trabalho como a alienação fundante das demais. Os trabalhadores eram explorados em fábricas e deixavam seus patrões cada vez mais ricos, enquanto eles e suas famílias ficavam cada vez mais pobres. Para Marx, esse tipo de trabalho ao invés de realizar o homem, o escraviza; ao invés de humanizá-lo, o desumaniza. O homem troca o verbo SER pelo TER: sua vida passa a medir-se pelo que ele possui, não pelo que ele é. Isso parece familiar? Pois é, vamos ver os detalhes.

Essa alienação pode ser descrita de duas formas: o trabalho como (a) atividade fragmentada e como (b) produto apropriado por outros.

A separação do trabalho, em todas as suas instâncias, aliena o trabalhador, que não se reconhece mais em uma atividade - porque ele faz apenas uma peça de um carro em uma escala produtiva e não tem a visão do conjunto, por exemplo - e porque acaba desenvolvendo apenas uma de suas habilidades, seja braçal ou intelectual, provocando, com isso também, uma divisão social. O trabalhador torna-se um “robô”.

Além disso, no segundo caso, o trabalhador tem a riqueza gerada pelo seu trabalho tomada pelos proprietários dos meios de produção. Ele é levado a gerar acumulação de capital e lucro para uma minoria, enquanto vive na pobreza.

Um empregado de uma fábrica de TV de LCD, por exemplo, em oito horas diárias de trabalho produz, ao final do mês, um número considerável de aparelhos, mas recebe apenas uma pequena parcela disso em forma de salário. O que recebe não permite sequer adquirir aquilo que ele produz e o modo de vida de sua família é muito diferente daqueles que consomem seu produto.

O trabalhador não reconhece mais o produto de seu trabalho e não se dá conta da exploração a que é submetido. O que se exterioriza não é sua essência, mas algo estranho a ele.

Divisão do trabalho e acumulação de capital, que, juntos, formam a base de uma sociedade capitalista, são também as fontes de alienação moderna, segundo Marx, por meio das quais se constitui um sistema de dominação.

Participação da Comunicação e da Publicidade na Alienação

A alienação é passada de um comunicador que possui uma informação nova (verdadeira ou não) e é recebida por um receptor que até então desconhecia o assunto, sendo alienado por esse comunicador.

A partir disso nota-se que tudo pode ser considerado mensagens alienadas, pois nas escolas são passadas mensagens novas a toda hora e que se é “obrigado” a acreditar e levar como verdade, não somente nas escolas, como também dentro das casas, igrejas, nos palanques eleitorais, nas ruas, meios de comunicação de massa, etc, funcionando sempre da mesma forma. A alienação normalmente vista nos meios de comunicação de massa por vários autores, onde esses meios estão sempre mandando novas mensagens (subliminares ou não), fazendo com que acreditem na maioria das vezes somente nas informações transmitidas por eles.

E a publicidade? Ela vende muito mais do que objetos; vende ideias, sentimentos e aspirações.Muitas vezes a propaganda usa frases como: “Este produto trará uma satisfação que você não espera”, ou algo similar. Ou seja, ela vende não a satisfação de uma necessidade existente, mas a criação de uma nova necessidade que aquele produto vai suprir e a pessoa nem sabia que isso seria possível.

É através da propaganda que os produtores fazem a pessoa acreditar que aquele produto irá preencher um determinado vazio que existe na vida dela, associando o produto com determinada necessidade (ex.: felicidade, liberdade, amor etc.).

Soluções para a Alienação

Se o trabalho, no sistema capitalista, é fonte de alienação, e se o capital é, basicamente, propriedade privada, isto é, a posse e o acúmulo de objetos, a superação do homem alienado só virá, para Marx, com a sociedade comunista.

Segundo Marx, somente com o comunismo as pessoas deixariam de ser alienadas, pois tudo seria de todos e não haveria necessidade de divisão ou expropriação do trabalho alheio. "A superação da propriedade privada é, por isso, a emancipação total de todos os sentidos e qualidades humanas", diz Marx.

Sua crítica parece atual diante de uma juventude destituída de ideais políticos que se contenta com prazeres imediatos proporcionados pelo consumo. É o celular da moda, o tênis de marca e o carro de luxo que definem sua essência?

Então, tem alguma solução viável? Tem sim. As pessoas devem aprender à pensar por si próprias, ter as próprias ideias, questionar as outras e desenvolver uma reflexão crítica sobre tudo, não aceitando qualquer informação passivamente. Além disso, o conhecimento seria peça-chave para que as pessoas se libertassem da alienação, pois assim elas poderiam debater e duvidar, e não seriam tão fáceis de enganar.

O importante é fazer. Como as pessoas podem ser felizes sendo alienadas? Como elas podem se realizar sendo que elas não sabem onde buscar essa realização, essa felicidade? Como ser feliz sem ser verdadeiramente livre (afinal, hoje em dia a maioria das pessoas são aliedadas, e pensasm ser livres quando, na verdade, nem sequer pensam por si)? Como ser feliz usando máscara o tempo todo?

5 – Consumismo

Outro inimigo moderno da felicidade é o consumismo.

Consumismo é o ato de comprar produtos e/ou serviços sem necessidade e consciência. É compulsivo, descontrolado e que se deixa influenciar pelo marketing das empresas que comercializam tais produtos e serviços. É também uma característica do capitalismo e da sociedade moderna rotulada como “a sociedade de consumo”.

Diferencia-se em grande escala do consumidor, pois este compra produtos e serviços necessários para sua vida enquanto o consumista compra muito além daquilo de que precisa.

O consumismo tem origens emocionais, sociais, financeiras e psicológicas onde juntas levam as pessoas a gastarem o que podem e o que não podem com a necessidade de suprir à indiferença social, a falta de recursos financeiros, a baixa auto-estima, a perturbação emocional e outros. Os consumistas buscam preencher os vazios de suas vidas com produtos.

Além de conseqüências ruins ao consumista que são processos de alienação, exploração no trabalho e a multiplicação de supérfluos (que contribuem para o processo de degradação das relações sociais e entre sociedades) o meio ambiente também sofre com este “mal do século”, pois o aumento desenfreado do consumo incentiva o desperdício e a grande quantidade de lixo.

O consumo não traz felicidade. Prova disso é que as pessoas nunca estão satisfeitas, estão sempre querendo mais. Dessa forma o consumismo se torna um compromisso com a infelicidade.

6 – Conclusão:

Não é tão difícil alcançar a felicidade. Difícil é se libertar das correntes que nos impedem de alcançá-la. Devemos ter em mente o que é realmente necessário para sermos felizes: amigos verdadeiros, liberdade verdadeira e reflexão verdadeira. A partir daí podemos traças todo o resto, e construir uma vida de pleno bem estar. Mas para que isso aconteça, precisamos nos desvencilhar da alienação e do consumismo. Precisamos ser verdadeiramente livres, capazes de pensar e agir por nós mesmos, capazes de sermos quem somos, sem nos escondermos com máscaras. Para isso, precisamos desenvolver um senso crítico, e valorizarmos o conhecimento. Devemos aprender sempre, mais e mais. Assim não seremos enganados, não seremos levados pela opinião das massas, e preencheremos todos os vazios da nossa vida, sem precisarmos consumir produtos inúteis em quantidades absurdas.

SEJA FELIZ!


7 - Bibliografia



Livros:

SOCIOLOGIA. Caderno do Aluno. Ensino Médio, 2º Série, volume 2. Governo de São Paulo; p. 12 e 18.

Sites:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Epicuro

http://www.textolivre.com.br/pensamentos/14447-a-formula-da-felicidade-segundo-epicuro

http://www.frasesfamosas.com.br/de/epicuro/pag/2.html

http://educacao.uol.com.br/filosofia/marx-alienacao.jhtm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Aliena%C3%A7%C3%A3o

http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx

http://www.algosobre.com.br/sociofilosofia/dialetica.html

http://www.brasilescola.com/psicologia/consumismo.htm

(Acesso em 26/06/2010)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Há Metafísica Bastante em Não Pensar em Nada - Alberto Caeiro



















Há Metafísica Bastante em não Pensar em Nada



O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados
das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.