sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Amar o tempo: Feliz 2012!



O ano de 2011 está chegando ao fim, e outro está começando, é o que dizem. O tempo, sabe-se que é um negócio contínuo, mais que contínuo, permanente. Mas isso não é muito fácil de lidar. Facilita a nossa vida dividi-lo em períodos pequenos e grandes. E os momentos vividos – serão momentos, aclives, declives?...

Ora, tão importante quanto a cronografia é a consciência e a vivência temporal. Saibamos sempre que essa consciência – vivência só é possível no que se chama de presente. Apenas no presente é possível refletir sobre o que houve, sobre o que há, sobre o que haverá; eis que o tempo se torna contínuo e inseparável de nossas vidas, de tal forma ainda mais persistente do que uma mancha de molho na camisa, uma bala de menta esquecida no bolso, um desejo inexpresso e insatisfeito, todavia sem configurar qualquer incômodo.
 Ah sim, é uma relação encarnecida essa com o tempo-espaço e, como tal, deve ser confortável sempre, é mais que um casamento. Amar o tempo presente constantemente significa estar atento a ele e a tudo que nele se discorre. Do contrário, seremos sempre como os ponteiros dos relógios, que giram, regiram e jamais alcançam nada.
Daqui pra frente, nosso compromisso com a vida deve mudar um pouco de natureza. É muito fácil girar constantemente como fazem os ponteiros do relógio. Necessário, entretanto, é Ser com o Tempo, vivê-lo e aceitar o Presente que ele nos oferece. Os aprendizados e as experiências, as mudanças e as decisões corajosas, os amores inebriantes aos quais devemos nos entregar lúcidos... Tudo isso devemos massagear sobre a lisa e luminosa tez do presente. O que se requer aqui não é ansiedade (Ah, vou fazer tudo hoje! Agora!). Ao contrário, só é possível estarmos atentos ao presente se estivermos em estado de paciência, ou seja, em paz, cientes. Assim, poderemos saber o que fazer a cada momento de nossas vidas, coisa por coisa, momento por momento. Talvez, com esse conhecimento, poderemos fazer de 2012 um ano ainda mais intenso que 2011, cheio de aprendizado e, claro, de conquistas.
Assim sendo, fiquem na paz, e tenham um feliz ano novo. Jah Bless! 


sábado, 3 de dezembro de 2011

Ismália, Buenas Noches.

Ismália, Buenas Noches.



Sente só
           Só agora
                 Aspira o pó
                             O pó aéreo
                                       Pós 2ª Guerra
                                               Pior que cocaína.

Vê no tom cinza negro amarelo
Como o ar essa noite é seco
E parece estar de mau humor.

É o bafo da Lua nascente,
Essa Lua fumante,
Mas quem se importa.
Vejo-a, pela lente da janela aberta, a fumar seus alvéolos pulmolunares, e basta a visão.

Piores ainda são os ares
Pressurizados
Politicamente corretos
Pelos quais planam morcegos cegos.

Pega hoje a tua bandana, garota,
Molha-a com água gelada,
Amarra-a no rosto pra umedecer o respirar pelas mucosas internas.
Saiamos sem ensaio
Pelas ruas pós-trabalho
                  De um faroeste em chamas.

(Então corremos de mãos dadas, pulando sobre obstáculos incendiados, enquanto o exército tenta nos atingir com metralhadoras de munição traçante, e não cessam os bombardeios até que chegamos ao abrigo.)

Pronto, amiga, já podemos respirar.
Respire fundo, a hipocrisia expira.
Solta o pânico que ficou lá fora.
Agora toma um gole comigo,
Pois tu, Lua Ismália...                    
Em si és bela,
Fora de si é inda mais.

Que tal irmos ao fim do logradouro?
Lá há uma sala, beco deserto
Onde dois divãs nos esperam.
Deitemos a fadiga das células, dos tecidos, das ondas, das ressacas passadas, das sugadas dos morcegos cegos, dos sufocantes ares poluídos, dos fardos semivivos, toda fadiga: deitemos.

Canta, como é que foi teu dia?
Canta, que somos agora?
Narrativas lineares no espaçotempo? 
Significados essenciais solutos em consciência?

Gametas? Somos gametas – palavras? Somos planetas – facetas? Somos capetas – canetas? Somos caretas – tormentas? Somos pimentas – erratas?

Peça, amiga, que me prendam!
Sou um marginal, incapaz de ver as barreiras das coisas. Mas, sendo assim, que me prendam bem preso, tão preso que eu sequer veja a prisão.
Mas antes, querida, brinquemos como crianças
Pelas zonas erógenas aldeãs,
Pelos jardins e cemitérios sérios.
Brindemos ao amor anárquico,
À visão plena do escuro pleno branco,
À bravura, à coragem de adentrar no escuro brando,
À piromania e à cera quente na qual nossos dedos se aprofundam,
À disciplina no voo dos vagalumes rebeldes,
À atenção ao invés da concentração,
À luz constante da Midríase que passeia seu olhar miando e roçando com carinho os filósofos amantes metafísicos.

Querida,
Cacau
Cevada e buenas noches. 

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Por Israel Silva.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Pensassonhos Soundtrack: Tame Impala



Esse post aqui marca o início de uma nova série de posts que vou postar. Não apedrejem minhas redundâncias, eu seu que vocês gostam. Enfim, nada melhor pra começar do que com essa banda australiana que está definitivamente abalando. O nome é Tame Impala, uma banda australiana formada em 2007. O nome faz referência à um antílope chamado Impala, portanto, “Impala Domado”, mas ou menos isso. Seus integrantes são Kevin Parker (guitarra principal e vocais), Dominic Simper (guitarra), Nick Allbrook (baixo) e Jay Watson (bateria e vocais de apoio).

A banda é pioneira e ganha muita importância no psychedelic revival que estamos vivenciando recentimente. Eles tem um som único, paralelo aos Beatles, rock’n’roll  em boa medida, sem muitos luxos nem exageros, meio garage rock melódico com heranças progressivas / psicodélicas, vocais que ecoam, acordes maneiros e experimentações, bateria precisa e bem improvisada, baixos com aquele groovie... É sensacional. É como dar uma passeada em alguma praia extraterrestre, fumando um baseado e namorando, enquanto o frescor do início da tarde vem chegando e os olhos não ardem com o sol ameno. É como ver que a vida é feita pra ter graça, não sentido. Ao mesmo tempo, a veia roqueira e a poesia das letras descem redondo.

Enfim, não vou dar muitos detalhes técnicos. Aqui vão algumas músicas: 




sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pensassonhos Reborn: Magazine já! Legalize!



Eaí caças-polêmicas de plantão! Tenho um artigo Pensassonhado para vocês, filhos das boas mães de gordas mamas brasileiras! É com prazer que anuncio o retorno do meu blog, que agora virá com muito mais força de impacto! Vai aqui uma boa confirmação de fatos: hoje é o dia da legalização da maconha.

E O QUE ISSO TEM A VER COM A REVOLUÇ@O?

Tudo! A vontade do povo requer resposta positiva. Fisicamente somos maioria. TEMOS CONSCIÊNCIA GLOBAL! Somos uma civilização! E temos direito à nossos hábitos, felicidades, pois precisamos viver.

Gostaria de comunicar aos hipócritas pseudocaretas e suas pulgas que renuncio ao preconceito, e não aceitarei ser alvo de um! Sim, senhoras, senhores e reticências! Não estigmatizem meus hábitos canábicos! Tem gente com hemorróida por aí, isso sim é problema! Existem idiotices e DST's!

...

Ufa! Agora vou falar do blog. Este blog vai tornar-se uma magazine, entenderam? Vou variar o conteúdo fodásticamente. Vai ter de tudo, menos pinto de borracha. Mas essencialmente assuntos que podem mudar a porra do mundo. Filosofia, artes em geral, ciência, a verdadeira espiritualidade, sem religião, sem estigmas, sem preconceitos, sem falta de sacanagem, sem leis! Sem cegueira, mas uma observação limpa e conectiva em relação à realidade!

Ufa. Enfim, vou voltar aqui em breve. Poesia, música e trocadalhos do carilho. Tipo, transmimento de pensassão, hehe.

Legalizem agora, jah!

sábado, 1 de outubro de 2011

Hiato


Grandi opera me aguarda num futuro próximo furo justaposto galera. E para tanto, venho por meio desta testa informar-vos-lhes que darei um tempinho para trabalhar em meus ruídos roídos, livros e poesias e projetos tantos que já transbordam de minhas gavetas. Serei leal ao tênue vácuo: estudarei, escreverei, cantarei, comerei transarei beberei, mas tentarei me manter vivo durante os intensos dias que devem vir. Oh, escassos leitores deste blogue: não sintam saudades. Saibam que estarei aqui, vivo, embora bastante ocupado e concentrado. Para quem ainda pouco navegou, saibam que o blogue tem um extenso arquivo que pode ser vasculhado. Saibam, ainda, que podereis me encontrar-me na coluna que eu escrevo para a revista crase, compromisso esse que hei de honrar. Aqui vai o link, e aquele abraço durante talvez algumas semanas ou poucos meses. Fui, maloca doida. Recomenda-se bastante masturbação e orgasmos intensos: sinta-se vivo. 


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pensassonho



Que é esse vão palavrão?
Essa palavra inventada,
Esse dono sem cão,
Esse cão na estrada?


Pensassonho é um pensamento livre,
É livro livre, sonho que flui lento.
É rápido, é lógica, elétrico talento
Nos fios frios de lá de dentro do pensamento.

(É um fluido que se torna forma recipiente)

Pensassonho é liberdade da mente
que se sente.
Oxigênio suficiente.

Para gerar um pensassonho,
Fundir ferro com vento.
Dando aos pensamentos asas de sonho,
Dando aos sonhos força de pensamento.


Unir coisas antagônicas:
Juntar o dia e a noite.
Fazer amor em meio a piadas cômicas,
Derrotar ditadores, calar o açoite...

Pensassonho é uma base para construir.
É o início, tentativa de pensar sem pesar...
(Princípio da Incerteza).
— Portanto: 
                     pense, sonhe, pensassonhe.

domingo, 11 de setembro de 2011

Nesse Momento



Te domino,
Te                d  e  s  f  a  ç  o
Nesse                       espaço.

Ouço o sino:
Já é hora!
O resto é fora,
Agora é dentro.
Nós somos dentro,
Nós somos agora.
(Eu vampiro sedento em ti adentro.).

              Eu tenho, eu sou teu explosivo.
Invado-te.
 (Bem como queres                –           e como queres...).
Eu sei...

Daí provo-te... (humm...)
Tu me tocas...
(Bocas)
Me sufocas...
Me deslocas...
(Aqui dentro do meu peito tu és tão presente).
(Aqui dentro eu te aceito eu te necessito).

— Ah! Diga coisas loucas!

Quero ouvi-las
Quero senti-las
Abraçá-las vê-las
Beijá-las
Acariciá-las praticá-las!
— Sim, essas coisas loucas todas que tu falas!

Nossa fúria!
       Sua mão.
             Nossas mãos,
                      Seu coração.
                          Nossos corações.
Seus lábios,
                   Nosso beijo.
Nossos beijos...
Ensejos.
Sejas.
Daqui não me retiro,
Não me despeço,
Tudo esqueço,
Me disperso,
Não me canso.
Sou de aço!
Aperta o laço!
(Este que nos une)

(risos)        Faço cócegas no seu ventre,
Realizo fantasias numa leitura dinâmica
Penetrando nas paredes da tua mente...
Vai, fala sério, não mente.

Eu te caço.
Isso não passa!
Os minutos, passos sem pressa.
O tempo outrora escasso
                  Agora espaço.
T e d o m i n o t e d e s f a ç o n e s t e e s p a ç o
Te domino com efeito 
...feito:                                                                                   D o M i N ó

Momento lento sem vem: fim assim.
...
Ao final da tarde...

— Lembra-se do tempo?
— Ah, nesse momento nem lembro nem temo.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

(Entre)vista: Thiago Cervan



Mais uma breve entrevista realizada por um carinha que não é jornalista mas é curioso. E é sendo curioso que se aprende, não decorando fórmulas, mas chegando à elas, e ainda assim nunca tomando apego à elas, mas antes, um sentir. 

Dessa vez trago aqui as palavras de um camarada da cena artística atibaiense underground psiconauta cosmolocal. Verdadeiro ativista, vale a pena conhecer a poesia e a arte urbana desse "manolo".

Thiago Cervan é filho das ruas cinzas do ABC e fazedor de coisas. É um viciado na palavra.
Foi publicado na antologia “Balões Coloridos” pela Editora Via Literária com a crônica “ A puta passageira” e participou do livro “Microcontos” organizado por José Luiz Goldfarb, lançado em 2010. Também colabora mensalmente na Revista Kalango.
Como roteirista tem diversas participações em curtas-metragens.
Possui um trabalho de poesia visual nas ruas e também é um dos idealizadores do Sarau do Manolo, evento que acontece em Atibaia/SP
Atualmente prepara o lançamento de seu primeiro livro de poesias o “Com Verso Fiado”.




http://thiagocervan.com.br/site/index.php


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Israel Silva: Quando e como você se iniciou nesse mundo doido das artes?


Thiago Cervan: Tem uns três anos que escrevo regularmente. Comecei com essa história de experimentar meu trabalho em outros suportes em 2009, quando fiz um curso de audiovisual na Difusão Cultural com Rodrigo Koni, com isso, realizei alguns curtas e nanometragens e com essas produções participei do Curta Atibaia e do Festival do Minuto. Meus trampos de stencil/serigrafia/colagem começaram depois que entrei em contato com o Matias Picon por meio da Galeria Mutante/Atelier Undergrude, isso foi no ano passado.

Israel: O que veio primeiro, a “poesia escrita” ou a visual? 

Cervan: A poesia “tradicional” veio primeiro.

Israel: Você atribui sua atividade à algum acontecimento de sua infância? Ou seja, você acha que alguma coisa foi responsável por acender sua tua faísca artística?

Cervan: Estudei música clássica por mais de dez anos. Desde sempre fui curioso, mas não há nenhum fato marcante ou desencadeador.
Israel: Quem te acompanha no facebook vê que você é um cara bem engajado. Você vê a arte como arma de transformação social?

Cervan: Toda arte é política e deve ser transformadora. A arte que não dialoga com o seu tempo, a meu ver, tem pouco valor.

Israel: O que você acha do fato de a “arte popular” atual estar tão distante das causas sociais?

Cervan: A arte, assim como tudo, é um produto histórico da sociedade. A arte que o grande público acaba consumido está nas mãos de grandes empresários e serve a uma estrutura podre de poder. Acredito mesmo é em pequenos grupos de pessoas trabalhando de forma autônoma para mudar a realidade local. Nos anos setenta o lema já era “pensar globalmente, agir localmente”. Não posso ficar preocupado em mudar o mundo se não mudo nem a minha rua.

Israel: Manolo, planos para o futuro?

Cervan: Produzir bastante, ler muito, viajar, ou seja, viver bem.

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Encontre os trabalhos de Cervan (ou ele próprio) também através dos seguintes links:


domingo, 28 de agosto de 2011

Motivar-te!



Serve pra desafogar-se e inundar-se de Vida Viva e sem disfarce; É para amar o amor mar, para não matar, para se deixar se chorar; Para ir carpir o mato que cresce no seu tato; Lembrar, lembrar e se esquecer; respirar pirotécnico e pirar e sufocar as mágoas, voar águas e beber águias; para apaixonar-se quebrar o céu rasgar o véu; para fugir e se achar...

Pra dar amar amor fulgor; pra vicissitudes vícios atitudes altitudes quietas quitutes sutis vis civis; pra palavrear palavrão tão teto quanto chão tão sim quanto não coração arroz feijão são; pra louco demente mente semente sente maluco doido tendo ido longe demais por hoje; pra (des)organizar as coisas num lugar achar noutro (des)encontrar; pra (ar)tesão beijo paixão sexo sem nexo; pra feliz aprendiz fossa bossa nossa coça roça moça bonita e meu violão!; 

pra inteligência ciência crença raça  religião mundão inteiro!; pro (a)normal ser humano racional transcendental (in)orgânico animal elétrico eletrônico biônico robótico ciborgue telescópico; pra todas as criaturas vivas do universo; pros alienígenas (des)alienados e civilizações extras extraterrestres extrauniversais extraordinárias ordinárias ou não; pro irreal tópico utópico imaginário... Pra tudo!

Arte! Pois somos humanos!

domingo, 21 de agosto de 2011

Lamaluz




à Alika Finotti

Um Shaman perdido                                                      um talvez
Homem – expresso                                                      eterno               paciência
Imerso em simplicidade, de si, do resto. Sem rótulo. Sem rótula.
Em paz, ciente.
Humilde criatura nascida n’África, quiçá planeta Terra,              nascida do resto
Filho da célula primeira, filho da mãe, filho
                                                                    Da Existência agora autoconsciente.
T u p y
T u c a n o d a m a t a c o l o r i d a.
Uma hora, uma hora o filho pródigo volta à casa.                              Don’t worry.
O prodígio volta pródigo à lama             -                     sim, por os pés na lama e                                                                                                                                                                                                             sentir o espírito mineral, a penetração sexual dos sais nos poros
Contato imediato de santo graal.

Agora há o sentir da essência ao longo dos longos.
Agora surge um ciborgue orgânico, que dança em raves viranoites viralatas.
Um ser extracorpóreo transcende os limites da pele
                                                                             Suor tônico de dança osmótica.
Quebra a muralha, há a percepção da totalidade.
 Molda a nova percepção com barro. O filho do laser e do gelo seco, a personificação transmoderna da psicodelia.
A criação, em sua humildade, vive em aldeia.
Glóbulo, globo, na veia, fluxo informacional da Existência.
Dance! E ligue-se à natureza. Na lama fosforescente, o espírito passa a existir.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Revolução Elétrica



Livres elétrons sem massa
Massivamente correnteiam
geram atrito, calor, queimam.

Um coração inflamado
queima enquanto acorda.

Desfibrilador                     dor
Dor ressucitante                recitante
queima enquanto acorda - acorde
Sem dó.                                             Dó menor.

Vejo mil
Corpos queimados
Dois mil
Olhos estalando
Glóbulos e partes
De um todo
Correndo sobrevivos
Numa solução plasmática insolúvel
Corrosiva em corredores.

Vejo coágulos queimados
Nos fios de alta tensão

Elétrons gritantes, lampadas mágicas e
Gênios retirantes desesperançosos negativamente caregados
Cansados de suas órbitas cotidianas.

Tudo confuso nervoso anamórfico
Tudo queima enquanto acorda.
...

Na nossa marcha eletrônica
o circuito é tenso, e as resistências
grandes. Passamos e incandescemos.
Luz, calor, tudo muito chocante.

Nas ruas, as lâmpadas acendem,
E tudo queima enquanto acorda.

domingo, 7 de agosto de 2011

Ô Mãe! (Mãe e filho num ponto de ônibus)



—Ô mãe!
— Quê.
— Aquele moço ali tá todo sujo de tinta, óia.
— É.
— Por quê?
— Por que ele está trabalhando.
— Ah...
O menino fez uma pausa. Depois, novamente uma feição interrogativa. Perguntou:
— Ele é pintor?
— Mais ou menos, filho. Ele pinta paredes. E pelo jeito é bom nisso, olha como está ficando!
— Ahn... Mas os pintores não são artistas?
— Nem todos. Esse aí é só um pintor de paredes.
— Ahn... Ô mãe!
— Que é... — Disse a mãe, perdendo a paciência.
— Ele é forte, né? É grandão.
— É que ele deve trabalhar muito, filho.
— Pra ficar musculoso pras mulheres?
A mãe gargalhou.
— Não, filho. Ele trabalha pra se sustentar, pra ganhar dinheiro.
— Ahn... Mas ele tá com uma cara triste.Será que ele é um pintor feliz?
— Sei lá se ele é feliz.
— Você nem se importa? — Perguntou a criança, surpresa, ingênua.
— Ué, filho, e o que é que eu posso fazer?
— Ah, sei lá. Mas ele não é pintor? Os pintores não são artistas? Os artistas não ficam felizes mexendo com aquelas cores bonitas?
A mãe ficou meio tonta. Quantas perguntas!
—Filho, em primeiro lugar, os artistas são malucos... E aquele moço não é artista, ele só pinta paredes! E ainda se suja todo e morre de calor debaixo desse sol forte.
— Peraí! —O garoto franziu a testa e segurou o queixo, como um pequeno pensador. — Então ele suporta o cansaço, a sujeira e o calor pra deixar a casa dos outros mais bonita? Então esse cara é um artista sim, e dos loucos.
A mãe se impressionou com o filho. Depois tentou explicar-lhe:
— Não filho. Esse homem não é artista, nem é louco. Ele faz isso porque precisa de dinheiro — disse ela, gesticulando “dinheiro” com os dedos.
— Ele sofre por causa de dinheiro? Mas o dinheiro serve pra quê se ele sofre? Esse cara é doido, mãe. Tô te dizendo...
A mãe riu um pouco e continuou.
— Filho, dinheiro serve pra comprar comida.
— E depois cagá tudo...
— Filho! Olha a boca!
— Desculpa. Mas eu acho que ele devia ser artista, sabe, parar de sofrer assim. Quem sabe, se ele for bom, pode ganhar dinheiro e comprar comida!
— Ai, esse ônibus que não chega... —Exclamou a mãe, impaciente. — Filho, para de fazer tantas perguntas! Você só tem nove anos! Não pode querer resolver os problemas dos outros.
—Tá bom mãe... — Disse o garotinho, triste...
Fizeram uma pausa. O ônibus já estava chegando, mas o garoto não tirava os olhos do pintor. Foi então que:
— Já sei mãe! Então quem vai virar artista sou eu!

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Imagem: Obra de Paul Klee



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Dourazul



Voando avoado revoando
Sobrevoando o céu azul
Azul azulando azulejo
Sob o cortejo do Sol no Céu
Sob o cortejo do Sol no Céu

Dourado do Sol no céu azul
Dourado do céu no Sol azul
Dourado no azul e o Sol no céu
Corado sabor de mel
Corado sabor de mel

domingo, 31 de julho de 2011

A Persistência da Memória



(lembranças solutas em sentimentos quase póstumos)

INTRODUÇÃO

No escuro
Vértice                                                                                                                           Vórtice
Córtex

— Engraçado, sempre me lembro da chuva
                                                                    e
                                         Do céu nublado e
Da admiração que tinha pelos raios.
Raios.
! Que os invoco agora !
Pois você que outrora minha nuvem
Pois você que outrora
em mim
precipitou-se como um temporal
                                                             atemporal
(com tudo que lhe constrói o caráter: ventania, raios, fúria etc.).
— Você aqui persiste.
                                        na memória.
Nas minhas janelas, nos meus memory cards

Neurais                                                                                                                      Cerebrais
Celebrais

Aliás, não apenas tu, Outrora. Outros seres também persistem aqui.
Também persistem:
Vós. Vós todos que aí estão.
(marimbondos do meu passado)
Vocês, que persistem em minha memória, são testemunhas de que existi, assim como eu testemunho a existência ainda que passada de vocês.
Justo.
...

PARTE I

Verdade. Atesto que, Sim, existi. Fui real um dia, tive história.
Já a morte...
A morte
Contêm-se
Em sua insignificância.
Pois nem a morte é capaz
De capturar a luz tão incidente
Do passado persistente
Paz                                                                                                                                 Fugaz

A morte não sobrepuja a memória da vida.
Sim, pois o próprio universo lembrar-se-á
                                                                            Da vida.
(amém)
...

PARTE II
Eis que eu, então, sendo filho do Pai,
Filho direto do universo, da existência...

[re]                                                                                                                           resistência
          (r)existência                                                                                       persistência

— Eu, sendo filho feito à Sua imagem e semelhança:
                                      Lembro.
           

Temos a dádiva da mente
e na mente temos memória.
...
PARTE III

Lembro do tom da primeira rosa e
Da terra que a circundava.

(Terra vermelha. Rosa vermelha. Formigas vermelhas).

Assim como tatuei no campo das lembranças os lábios teus.

Ver                                                                bios                                                          Melhor
Melhor                      Me                           Ver
Vermelhos...
(lábios)

— E não quero e não vou esquecer-te! Pois és tu, Outrora, a minha nostalgia analgésica.

...

PARTE IV

Ah, não me conformo com o esquecimento. Falo do esquecimento proposital, da fraqueza psicológica que nos pede para esquecer.
Considero o cúmulo do desprezo
(e mesmo do desrespeito)
abandonar fragmentos recicláveis
da vida própria em
páginas quaisquer na
lixeira do Nunca Mais,
e jogar o Antes
aos vermes.

(esquecer assim é peneirar o Sol com nuvens)

...



PARTE V

 Aos                                                             Vermes.                                            
  — Nuvens.
Rever           ver          mês       chuva      cumulonimbus
Vermes                                                                                                                    Vermelhos

Eu bem que poderia esquecer
aquelas palavras,
aqueles vermes vermelhos
saindo da boca daqueles
 que me ofenderam
E me sugaram o sangue
Vermelho
Naquele mês, naquele dia chuvoso, nublado, lampejante.

“Engraçado, sempre me lembro da chuva, do céu nublado, da admiração que tinha pelos raios.”

Poderia também esquecer
o escuro que se expandiu
no vórtice da minha amargura
no vértice da minh’alma.

Mas não me esqueço não, pois lapidar minha aflição foi aprendizado autodidata.. Aprendi a caçar por ter me enfadado de ser presa. Aprendi a amar o escarlate.

...

PARTE VI

Portanto eu lhe rogo, querida: Não te esqueças de mim.
Não...
Sejas testemunha de que eu existi e
Seja prova viva
De um amor que existiu.
Façamos um pacto para não dissiparmos a memória já esparsa de nossa história.

Então seremos
Testemunhas
De uma força que move a humanidade.
Assim sorriremos quando chegar o dia
De testemunhar
No Juízo Final.

...

FINAL

Rogo à vocês também,
À todos vocês que ainda vivem,
Imploro à vocês que ainda persistem enquanto eu fui embora já:

Não
Se esqueçam
De mim.

Não
Se esqueçam
Da vida.

Não esqueçam os aprendizados mais valiosos, não esqueçam os sentidos de estar no mundo.
No final das contas,
Gritemos um brado fragoroso, mais que retumbante
                                                                                          Para que Tudo que Há
Também se lembre de nós depois de partirmos.

Um dia o Universo há de sentar-se. Neste dia ele se lembrará de nós. Sejamos a Persistência da Memória da Existência.
Aqui vai uma mensagem para o pós:
— Nós estivemos aqui.
PS: Amo-te. Um beijo.