A família está bem por enquanto. Estamos passando por uma fase ficanceiramente difícil, e isso estressa meu padrasto, que estressa minha mãe, que me estressa. Tudo bem, todavia. O equilíbrio virá. Mas algo está errado.
Por exemplo com minha sobrinha. Com 15 anos, linda, cheia de talento e potencial. Minha sobrinha, a qual eu encontrei certo dia vagando nas ruas de Mairiporã. Na ocasião abracei-a com ânimo, mas logo percebi: há algo errado. Pele ressecada, cabelos negligenciados, rosto repleto de pequenas feridas, olhar cansado e seco, mãos mui secas e ásperas. Não, essa não era a sobrinha que eu sempre tive. Mui contraditoriamente, lá estava ela, bem vestida e perfumada. Abismei-me. Pus-me logo a perguntar para onde ela estava indo. Claudinha* sempre fora sincera comigo. Tentando superar a vergonha, respondeu-me com o olhar disperso:
* nome fictício
- Estou indo fazer coisas erradas.
Naquele momento tive um grave sentimento de decepção, perda, infelicidade, até fracasso. Mas nenhuma surpresa. Há tempos eu sabia que suas companhias não eram adequadas, e a educação que ela recebia do pai e da madrasta era equívoca, ineficaz, ignorante... Sempre que nos víamos, eu e minha sobrinha, eu fazia questão - como um tio-pai-apaixonado - de aconselhá-la da melhor forma possível. Infelizmente nossa distância e falta de contato fizeram com que o o meio em que ela vive vencesse os meus conselhos.
Esta era agora a situação de minha querida sobrinha: viciada em cocaína, usuária de maconha e traficante de lança-perfume, vinha cometendo furtos para sustentar o vício, tendo sido expulsa de casa, indo assim morar com traficantes. Quinze anos de idade.
Há algo errado. É como se as histórias se repetissem, é como se o tempo andasse em círculos, preso num sistema opressor. O que ocorre agora com minha sobrinha ocorreu já antes com sua mãe, minha irmã, que há dezoito anos atrás usava crack, maconha e era casada com um traficante, hoje ex-traficante, pai de minha sobrinha. O mesmo homem que espancou minha mãe em minha frente quando eu tinha apenas quatro anos (e lembro, jamais esquecerei), ameaçou matar minha irmã diversas vezes... O mesmo homem pelo qual não guardo ódio ou remorso. Ele, afinal, também é vítima do mesmo sistema que prende o tempo.
Mas que sistema é esse, afinal? É um sistema inerentemente corrupto, antinatural, degenerativo. Não se trata do anticristo, tampouco de cristo; não é culpa do capitalismo ou do socialismo; não é um sistema criado pela nova ordem mundial ou a maçonaria. Trata-se do sistema humano mais profundamente arraigado em nossa sociedade. Um sistema que está consumindo à tudo, inclusive à si mesmo. Um sistema que está entrando em colapso, e que irá morrer num processo de Mudança de Era.
Enfim, enquanto isso tudo ocorre, vou tentando equilibrar meu sonhos, minhas lutas, minhas angústias e esperanças. Sou, afinal, uma vítima pouco ferida, e existem pessoas mais afetadas.
Apresentar-vos-ei: Zeitgeist Addendum: Uma mudança de era.
- Este filme é uma superprodução independente, vale a pena conferir.
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- Recomenda-se assistir em tela cheia.
- Se for melhor para você, assista direto no youtube, a legenda aparecerá sozinha: http://www.youtube.com/watch?v=EewGMBOB4Gg
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