sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Amar o tempo: Feliz 2012!



O ano de 2011 está chegando ao fim, e outro está começando, é o que dizem. O tempo, sabe-se que é um negócio contínuo, mais que contínuo, permanente. Mas isso não é muito fácil de lidar. Facilita a nossa vida dividi-lo em períodos pequenos e grandes. E os momentos vividos – serão momentos, aclives, declives?...

Ora, tão importante quanto a cronografia é a consciência e a vivência temporal. Saibamos sempre que essa consciência – vivência só é possível no que se chama de presente. Apenas no presente é possível refletir sobre o que houve, sobre o que há, sobre o que haverá; eis que o tempo se torna contínuo e inseparável de nossas vidas, de tal forma ainda mais persistente do que uma mancha de molho na camisa, uma bala de menta esquecida no bolso, um desejo inexpresso e insatisfeito, todavia sem configurar qualquer incômodo.
 Ah sim, é uma relação encarnecida essa com o tempo-espaço e, como tal, deve ser confortável sempre, é mais que um casamento. Amar o tempo presente constantemente significa estar atento a ele e a tudo que nele se discorre. Do contrário, seremos sempre como os ponteiros dos relógios, que giram, regiram e jamais alcançam nada.
Daqui pra frente, nosso compromisso com a vida deve mudar um pouco de natureza. É muito fácil girar constantemente como fazem os ponteiros do relógio. Necessário, entretanto, é Ser com o Tempo, vivê-lo e aceitar o Presente que ele nos oferece. Os aprendizados e as experiências, as mudanças e as decisões corajosas, os amores inebriantes aos quais devemos nos entregar lúcidos... Tudo isso devemos massagear sobre a lisa e luminosa tez do presente. O que se requer aqui não é ansiedade (Ah, vou fazer tudo hoje! Agora!). Ao contrário, só é possível estarmos atentos ao presente se estivermos em estado de paciência, ou seja, em paz, cientes. Assim, poderemos saber o que fazer a cada momento de nossas vidas, coisa por coisa, momento por momento. Talvez, com esse conhecimento, poderemos fazer de 2012 um ano ainda mais intenso que 2011, cheio de aprendizado e, claro, de conquistas.
Assim sendo, fiquem na paz, e tenham um feliz ano novo. Jah Bless! 


sábado, 3 de dezembro de 2011

Ismália, Buenas Noches.

Ismália, Buenas Noches.



Sente só
           Só agora
                 Aspira o pó
                             O pó aéreo
                                       Pós 2ª Guerra
                                               Pior que cocaína.

Vê no tom cinza negro amarelo
Como o ar essa noite é seco
E parece estar de mau humor.

É o bafo da Lua nascente,
Essa Lua fumante,
Mas quem se importa.
Vejo-a, pela lente da janela aberta, a fumar seus alvéolos pulmolunares, e basta a visão.

Piores ainda são os ares
Pressurizados
Politicamente corretos
Pelos quais planam morcegos cegos.

Pega hoje a tua bandana, garota,
Molha-a com água gelada,
Amarra-a no rosto pra umedecer o respirar pelas mucosas internas.
Saiamos sem ensaio
Pelas ruas pós-trabalho
                  De um faroeste em chamas.

(Então corremos de mãos dadas, pulando sobre obstáculos incendiados, enquanto o exército tenta nos atingir com metralhadoras de munição traçante, e não cessam os bombardeios até que chegamos ao abrigo.)

Pronto, amiga, já podemos respirar.
Respire fundo, a hipocrisia expira.
Solta o pânico que ficou lá fora.
Agora toma um gole comigo,
Pois tu, Lua Ismália...                    
Em si és bela,
Fora de si é inda mais.

Que tal irmos ao fim do logradouro?
Lá há uma sala, beco deserto
Onde dois divãs nos esperam.
Deitemos a fadiga das células, dos tecidos, das ondas, das ressacas passadas, das sugadas dos morcegos cegos, dos sufocantes ares poluídos, dos fardos semivivos, toda fadiga: deitemos.

Canta, como é que foi teu dia?
Canta, que somos agora?
Narrativas lineares no espaçotempo? 
Significados essenciais solutos em consciência?

Gametas? Somos gametas – palavras? Somos planetas – facetas? Somos capetas – canetas? Somos caretas – tormentas? Somos pimentas – erratas?

Peça, amiga, que me prendam!
Sou um marginal, incapaz de ver as barreiras das coisas. Mas, sendo assim, que me prendam bem preso, tão preso que eu sequer veja a prisão.
Mas antes, querida, brinquemos como crianças
Pelas zonas erógenas aldeãs,
Pelos jardins e cemitérios sérios.
Brindemos ao amor anárquico,
À visão plena do escuro pleno branco,
À bravura, à coragem de adentrar no escuro brando,
À piromania e à cera quente na qual nossos dedos se aprofundam,
À disciplina no voo dos vagalumes rebeldes,
À atenção ao invés da concentração,
À luz constante da Midríase que passeia seu olhar miando e roçando com carinho os filósofos amantes metafísicos.

Querida,
Cacau
Cevada e buenas noches. 

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Por Israel Silva.