terça-feira, 12 de julho de 2011

Passeio pela Noite de São Paulo





Sonhando vendo pela janela isso tudo sem vírgula só sinalização só travessa travessão e gente passando voando quase criando asa saindo do chão...
E voando de lata voadora que corre na terra passando ferro que nem panela velha com gente dentro passando roupa de asfalto molhado quase fedendo quase perdendo a vida respirando ar cuspido de escapamento velho que mais parece um instrumento musical mal feito e feito desfeito de desafeto puro e sincero que serve só pra adoecer meu pulmão cansado de tudo isso aqui e minha garganta que não consegue mais falar de tão oca que ficou que nem o vento... 
E não sei como tanta eletricidade um carro atrás do outro um atrás do outro um comendo outro um encoxando outro um iluminando o rabo do outro sem dó sem nó só pó preto que nem o céu escuro de noite e de fumaça também... 
E gente e mais gente formiguinha desatenta e logo ali o mendigo que ninguém vê se está morto se está vivo ninguém sabe nem quer saber ora essa também não sei se estiver morto tanto faz o importante é não feder... 
E foder todo mundo sabe e é um monte de gente fodendo simultaneamente e fugir todo mundo sabe melhor ainda e imagina só quanta gente comendo quanta gente cagando ao mesmo tempo e tirando da Terra e a Terra perdendo e isso tudo indo parar onde não devia...
E eu sonhando vendo pela janela isso tudo sem vírgula só sinalização só travessa travessão e gente passando voando quase criando asa saindo do chão...
E é uma gigantesca dantesca doença pandêmica que ninguém vê só bebe e é uma alienação e quanta gente que forma a massa do bolo que só come quem pode e quem não pode é comido ora fazer o que fazer nada não se não tem conhecimento nem vontade nem coragem vai fazer cocô lá no banheiro ou quem sabe no mato só isso... 
Meu Deus que não existe acho que estou louco da Silva mas enfim voltando ao assunto...
E tá tudo aceso acesso às estrelas acho que é logo ali e isso tudo ofusca o que vem de cima e você acha que o que vem debaixo não te atinge claro que atinge e ainda tinge sua cara de vermelho para largar mão de ser trouxa...
E tem placa de tudo quanto é coisa que ninguém precisa mas todo mundo vê e é um consumismo um monte de boi no meio da cidade só cagando em vias públicas e tem placa e mais placa e coisa luminosa que só não dá luz pra quem precisa e quem precisa afinal de contas...
Eu não sei nem o que dizer o que explicar o que escrever mas há alguma necessidade emanando dessa coisa toda aqui sem verde suficiente e esse monte de árvore verde que não tem luz e esse monte de poste cinza que tem suas próprias pirilâmpadas e a puta rodando na rua correndo atrás de algum viciado e tem tanto concreto que a água não passa e a enchente não mata a sede de nada e isso aqui virou um deserto sem areia e é o fim já e todo mundo tá preso na prisão de si...
Sonhando vendo pela janela isso tudo sem vírgula só sinalização só travessa travessão e gente passando voando quase criando asa...
Saindo do chão.




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Fotografia: Paulistavança, de Israel Silva. 
Texto in "Pensassonhos", de Israel Silva.

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