quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Prova à Prova de Gente


A prova à prova de Gente


São 9,875 questões
Pra você ser mais ou menos admitido
Na vida no mercado no trabalho
Dans La Societé...
E vá lá.

Todas questões       irrespondidas
Irrespondíveis                              Irresponsáveis.
Nenhuma delas                     com a tua resposta
Nenhuma delas                                 te responde.
Nenhuma delas te pede sabedoria         cardíaca.
Nenhuma delas                  quer a resposta certa.

Para que sejas aprovado, não se pede nada do teu espírito ou do teu talento, que, para o mundo, nada disso é necessário.

Requer-se
Ao candidato
Gigabytes desmemórias.

(Precisa-se de mais computadores na sociedade).

Nesta competição por uma vaga
Na nova câmara de gás Deluxe
Ganha quem acertar mais alternativas,  
o software mais bem programado, o que errar mais inspirações.

E se por acaso não houver alternativa...
Então chuta-se o crânio:

— Inscrições Abertas!


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Primeiramente postado em: http://israel.revistacrase.com.br/
Tirinha by Marcos Massaro & Israel Silva. http://naoseinaoquerosaber.wordpress.com/about/
Poema in "Extramundo", meu próximo livro. Comentem!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

sexta-feira, 17 de junho de 2011

(Entre)Vista: João Negreiros - A Arte de Ser o Poema


João Negreiros nasceu em Matosinhos a 23 de Novembro de 1976. Muito novo, escrevia já teatro, poesia e prosa poética. Na área do teatro, a sua obra foi crescendo, tendo hoje quatro peças editadas, Silêncio e Os Vendilhões do Templo (2007), O segundo do fim e Os de sempre (2008). No âmbito da poesia, publicou dois livros: o cheiro da sombra das flores (2007), seleccionado de entre as melhores obras de poesia ibérica publicadas entre 2007 e 2008 pelo Prémio Correntes d' Escritas de 2009, e luto lento (2008). Entre vários prémios, destacam-se o 1º lugar no Prémio Internacional OFF FLIP de Literatura 2009 (Brasil), categoria Poesia, e o Prémio Nuno Júdice 2009.



É com muito prazer que trago agora à vocês uma pequena entrevista com este grande poeta.
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Israel Silva: Bem, vamos começar com a pergunta invariável: como foi que tudo começou? 

João Negreiros: Já nem me lembro. Foi na adolescência, escrevia para a gaveta, basicamente poemas. O teatro começou mais cedo porque comecei a escrever os meus textos para representar muito jovem, com cerca de 12 anos. 

Israel: Conte-nos de sua infância e adolescência. Tens algumas lembranças que marcaram a tua obra?

João: A minha avó: sempre achou graça às minhas brincadeiras e isso talvez tenha influenciado a minha personalidade tornando-a ainda mais performativa.

Israel: Pelo que vemos em seus vídeos no youtube, você é um ótimo ator. Aliás, como surgiu essa ideia de fazer performances no youtube?

João: Foi um acaso. Uma vez estava a dar uma aula de teatro e pediram-me para dizer um dos meus poemas. Eu disse um para exemplificar uma técnica específica, um amigo filmou e acabou por pôr no youtube. Muito depressa transformou-se num fenómeno a uma escala que eu nunca poderia imaginar. Nunca fui muito ligado às novas tecnologias.

Israel: Você escreve peças, poesia e prosa poética. Como você mesmo define o teu estilo? 

João: Também escrevo prosa, acabei agora um romance e tenho uma novela publicada. Não consigo definir o meu estilo, deixo isso para os meus leitores.

Israel: Sei que esta pergunta parecerá cruel, afinal, as obras de um autor são como filhos deste. Mas, dentre os teus livros, qual você destacaria para nós e porque?

João: Tem razão, é mesmo cruel, não consigo escolher.

Israel: Você admira algum autor brasileiro?

João: Admiro muito o Nelson Rodrigues e Érico Veríssimo.

Israel: Aliás, a língua portuguesa, cá para nós, é mesmo maravilhosa. Você acha que os países lusófonos deveriam interagir mais entre si? E como poderíamos expandir as obras desses países para o mundo (afinal, o mundo tem muito a ganhar conosco)?

João: As novas tecnologias parecem-me uma boa solução, estou muito surpreendido com o potencial. Se houvesse mais parcerias entre músicos, actores, escritores e artistas do audio-visual tudo seria bem mais fácil. 

Israel: Estamos quase acabando. Que recado você gostaria de deixar para os novos autores (como eu, por exemplo)? E como você vê o futuro da literatura?

João: Aos novos autores digo para não se preocuparem muito com o reconhecimento. Procurem o prazer e a excelência. O futuro da literatura vejo como uma forma de consciencializar a Humanidade e alertar para os perigos da era do vazio.

Israel: Por fim e, falando em futuro, quais são teus planos para ele? 

João: Escrever, dizer os meus poemas e ganhar coragem para, um dia, voltar a escrever outro romance.

Israel: Bem, terminamos por aqui. Muito obrigado, João! E que tenhas muito sucesso.

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João Negreiros, por mim.

Desde Mario Quintana, são poucos os poetas que realmente me marcaram. Não, não desprezo os grandes, mas falo dos poetas que mais profundamente me rasgaram. E conto nos dedos Ferreira Gullar, Drummond, Fernando Pessoa, Alika Finotti e agora João Negreiros. Esta mão não estava cheia antes do último. 
Vejo na poesia de João a arte de Ser o Poema, que para mim se define como o futuro, o presente, a crescente desfronteirização da arte com o corpo.  João Negreiros apresenta-nos gratuitamente uma obra pungente e risonha, mui bem humorada, pura de tão natural e sincera, que te leva a respirar livremente dada a inspiração.     

Se eu, em minha singeleza, em minha ainda pequena condição, pudesse lhe dar um prêmio, daria-lhe um Prêmio de Agradecimento dos mais verdadeiros de todos os tempos dos meus 17 anos de até agora. Mas isso sou eu. Vejam por vocês mesmos:










domingo, 12 de junho de 2011

Olá, alguém aí? 3/3.



Artigo 13º - Sabendo, pois, que minha espécie está mais interligada do que nunca, proponho com este livro o debate, o diálogo, a interação. É assim que me torno testemunha de meu tempo – Meu Tempo que é multi, que é inter, que é universo, que é gênesis e também apocalipse, que é 8 e 80, que é micro e macro. Gostaria muito, também, que estas palavras todas se excedessem para dialogar com outras formas de arte, e com outras formas de vida.
Artigo 14º - Ao realizarmos essa viagem, vez ou outra, enfrentaremos grandes pequenas questões, tanto quanto simplesmente pararemos em algum lugar para observar o voo de uma abelha. Os pequenos momentos do cotidiano formam toda uma linha do tempo. É assim que iremos começar nossa jornada: pequenos. Pois é preciso ser pequeno para crescer. É preciso entender que as pequenas palavras são as mais poderosas: amor, paz, sonho, vida, morte, tempo, tudo, nada...
Artigo 15º - Todavia está claro que iremos crescendo, expandindo até o fim do livro. Sejamos como o cosmos. Cresçamos, ganhemos força. Sabe-se lá que confins alcançaremos, sabe-se lá quão grande há de ser nossa força gravitacional.
Parágrafo Único: Advirto ao leitor que leia aos poucos, pois há risco de overdose. Leia assim, aos pouquinhos, como se o mundo não fosse acabar amanhã (será?). Vá bebendo este vinho novo, saboreando, sentindo o aroma, a textura, observando as cores da fumaça do incenso.  Só não me abandone, por favor.
Artigo 16º - Este livro está cheio de pensamentos, e também cheio de sonhos. Em certos momentos, fundir-se-ão pensamentos e sonhos. Não falo dos sonhos noturnos, não falo de polução noturna. Falo de aspirações.
Artigo 17º - Peço perdão se muitas vezes transmitirei incerteza. A incerteza faz parte da minha biografia. A incerteza é o que me instiga a querer seguir.
...Que mais?
Nada. Concluindo:
Convido-te, a partir de agora, a pensassonhar comigo. 

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Para ver as partes 1 e 2, basta ir descendo aos posts anteriores. ^^
Arte: Paul Klee.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Olá, alguém aí? Parte 2.


Para ver a primeira parte, basta descer até o post anterior. 

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Parágrafo Único: Tentativa adolescente? Verdade, este é outro fator determinante na escultura da obra: em minha atual idade, sou considerado “adolescente”. Aí já viu. Adolescente... Uma criatura infame do mundo inferior – curioso, irresoluto, efêmero. Com a enorme tarefa de viver o tão desejado aqui e agora sem deixar de planejar o futuro. Enfim, um ser incompleto caminhando para ser... Caminhando para Ser (ponto).
Artigo 7º - Portanto, o fato é que com esta obra (Ó dó de ti) quero te levar a tentar e tentar comigo – que tentar é uma tentação... Verás. Mas tentar o que? Tentar crescer como ser humano, tentar alcançar entendimento e inspiração. Tentaremos juntos voar por sobre muralhas e sairmos da caverna da alienação. Verás.
Artigo 8º - Palavra de réu: nego a acusação de jogar palavras ao vento. Não, eu não jogo palavras ao vento. Eu elevo meus pensassonhos aos ventos e eles voam (para isso as asas). Pois não sou um ditador das palavras tampouco de suas interpretações, portanto lhe concedo a liberdade de tomá-las e colocá-las na forma que mais desejares, e se apropriar delas para que estas façam parte de sua vida (que, como a minha, não tem sentido predefinido). Quero fazer de minha vida e de minha obra um patrimônio comum de todos.
Artigo 9º - Autoria? Bem, se sou autor é por que fui eu quem (perdão pela palavra) vomitei isso aqui. Mas acaba nisso. A autoria é minha, mas o vômito em si não. Veio de mim, mas com graça vos dou – aprendi a compartilhar. Universalizo-me, eu que já sou cidadão cosmopolita. O conhecimento e a inspiração são de todos (se já disse, repito). Eu? Eu sou apenas um glóbulo nessa veia.
Artigo 10º - Pensassonhos por quê? Explico. Pensassonho é um fluido que toma a forma do recipiente que o guarda. Pensassonho não é exatamente um conceito firme, mas uma brincadeira de palavras que procura nos trazer simples ideias: pensassonhar, em suma, é o ato de poder pensar, de maneira fluida, própria e livre (livre de preconceitos e ideias criadas pelo capitalismo selvagem, pela mídia manipuladora, pela publicidade canibal etc.), libertando assim a inteligência e os talentos naturais para que estes possam ser usados na conquista dos sonhos e da felicidade.
Artigo 11º - A interpretação, claro. É fato que cada partícula deste livro guarda uma mensagem, mas não se sabe quantas mensagens cabem nas partículas. Certos poemas são inscritos em rocha, outras palavras podem estar escritas em nebulosas, vai saber. Fiz assim para que haja uma relação mentalmente sexual entre tu e este livro. Desta forma, não apenas a obra preencher-te-á, como tu preencherás a obra. Ao tentar interpretar esses hieróglifos, entenderás que certas vezes a mensagem é óbvia, e noutras circunstâncias a mensagem será criptografada. Assim, gerar-se-á confusão e daí nascerá o caos e então virão questões. O caos se encarrega de gerar. E a questão é a gênese do conhecimento.
Artigo 12º - E fiz assim (siga em frente) para criar um espécime de quebra-cabeças, com partes móveis e interligadas, as quais você certamente vai apalpar e remontar e colocar sob outros ângulos. Isto não é uma bíblia publicitária, mas um pequeno livreto de filosofia primordial, ou de simples observação. Este livro foi feito para ser visto de diversos ângulos, sob o olhar de diversos observadores, através de lentes multifocais.